ESCRITOS DAS HORAS VAGAS 5

Monday, June 05, 2006

UM AZULEJO DO MARQUÊS

UM AZULEJO DO MARQUÊS

O metro do Marquês de Pombal já vai tendo uns aninhos. Mas ainda há quem se lembre de, quando aquilo foi feito, vasculhar, como é hábito, todos os cantos da casa. Esqueceu. Mas eu lembro-lhe. Afinal, para que serve o esforço em prol da cultura que uns tantos políticos fazem gastando uns “milhõeszitos” a enfeitar estações de metropolitano, por exemplo. Para turista ver? Este já não precisa de se cultivar, já está. Apenas satisfaz a curiosidade deixando-nos o seu dinheiro. Construtivo já se vê. Estou há mais de 30 anos na capital e espevita-se-me sempre a curiosidade de olhar para os monumentos. Não é que eu não os conheça já, mas se com tantos afazeres que por aí há, principalmente depois do Dr. Mário Soares ter a excelente ideia de nos meter em Bruxelas, porque não dar uma olhada para rever a matéria e assim estar sempre apto no discurso para uma pontinha de “homo sapiens sec. xxi?”
Com franqueza, acho destrutivo quando as pessoas dão conselhos, tais, como quando me diziam a mim quando vim para Lisboa “Eh pá, não olhes para os monumentos para não saberem que és da província. Assim parece que já cá estás há muito tempo.”!!! Como se os que cá estão há muito tempo não olhassem para os monumentos. Mas se calhar é verdade que não olham. Os afazeres, principalmente, quando viajam de autocarro.
Mas vamos ao ponto. O tal azulejo do Marquês (metro - rotunda) pode ser auto-convencido e pensar que, sim senhor, toda a gente o lê. Ma não é verdade. Ninguém lê. Mas eu li. E no princípio muitos leram. Literalmente não posso reproduzi-lo. Mas o sentido, simulando redacção e escrita de criança “O Marquês de Pombal foi um grande homem pois desenvolveu a indústria e o comércio pois esteve em Londres como embaixador e queria imitar os ingleses que sempre foram bons em tudo, até no colonialismo. Foi um grande homem (Ponto final. Mas depois?). Depois veio a D. Maria I que o não gramava ( o sentido, é claro, textualmente é capaz de estar um eufemismo), vejam só a lógica daquela criança, e castigou-o porque foi muito mau por causa de, por exemplo ter supliciado e morto os Távora, obrigando-o a ir viver para Pombal, e nunca mais pode pôr os pé em terra lisboeta .“
A nós, homens da democracia do sec. xxi (os gregos também tinham) horroriza-nos o facto dos castigos infligidos por aquela ‘mão de ferro’. Mas temos de ver as coisas à luz do despotismo esclarecido que fazia tudo com intenções humanistas. E D. Maria I cometeu um erro que nenhum político (eleito pelo povo, já se vê!) faria. Eliminar um homem com a visão e experiência dele. Nunca houve mais ninguém como ele? Só em intenções.
E assim, futuramente, quanto a indústria, só ficou a semente que ele lançou, umas fabricazitas de lanifícios ou vidros por aqui ou por ali. Começou a lançar-se a infra-estrutura para os vindouros mas a rainha, por direito sucessório, não quis.
Continuámos a abanar a árvore das patacas, passe o termo, as patacas eram especiarias da Índia e esmeraldas e ouro do Brasil que pensávamos que não se acabavam. Seguiu as pisadas do avô fazendo monumentos (veja-se a basílica da estrela com o seu estilo novo gótico) o que dava de comer a muita gente enquanto o dinheiro durou. Mas repare-se no caos em que isto tudo entrou quando o Brasil se tornou independente. Foi-se a árvore das patacas e veio a guerra civil. Há uma lógica, de sem dúvida, como a lógica daquela criança.
Mas o mal disto tudo, para nós, gente do sec. xx-xxi é que nunca mais nos endireitámos. Nem com lamentos de poetas a “recordar e viver os descobrimentos nem nada”. Porque em Portugal sempre se viveu bem (relativamente aos outros países, como é lógico) até à perda do Brasil. `
Resumindo. À custa dos heróis (e mártires) dos descobrimentos habituámo-nos a viver à custa da barba longa. O dinheiro acabou-se. O hábito ficou.
Será Bruxelas a salvação?